terça-feira, 27 de novembro de 2012

É como se de repente ...


É como se de repente...
É como se de repente todos os espelhos fossem baços,
E o brilho, ao espreitar, os quebrasse,
E eu só sonhasse com perfeitos reflexos.
É como se o meu coração transparente,
Ao ser destapado, ensombrasse,
E eu só fantasiasse com o nascer do sol,
É como se a vida fosse um lençol imenso,
Ondeando ao vento, longe-ausente,
E eu só pudesse caminhar em linha recta.
É como ter a certeza do fim,
E ver o desenrolar de cada dia,
Sem nunca agarrar nenhum,
E tudo o que quero é agarrar uma espécie de nao sei quê.
É como saber que amanhã escurecerá,
E ainda assim nao aproveitar a luz de hoje,
E passar uma vida inteira a sonhar com eclipses...
É ter dado mil voltas ao mundo,
E nunca ganhar um segundo ao tempo,
É ter uma arma na mao, nao matar,
E acabar morto a tiro...
É saber que o fim nos está a abraçar,
E nao conseguir abraçar aqueles que estao para findar,
E ser depois abraçado pela dor do pesar.
E...
Tantos abraços que poderia ter segurado,
Tantos carinhos que poderia ter aperfeiçoado,
E contudo, nunca oferecera um verdadeiro e visceral toque,
E como nao me é permitido mostrar o pensamento, escrevo.
E espero que entendam que...
Se escrevo é porque dói!
A dor, essa, também será doravante uma aflição crónica,
De jamais ter conseguido parar o tempo naquele momento,
Onde o brotar saudava ainda distante o expirar,
E o olhar fixava, vislumbrado, a eternidade...
Mas, de momento, acaricia-me,
Como a tesoura abraça o tecido ao fechar.
E consome-me em salpicos que o pincel se esqueceu de chorar,
Deixando o quadro do meu viver baço,
Como o espelho brilhante que a vida nunca me quis confiar.
Houve sempre uma barreira,
Entre o outro e eu,
E entre mim e a própria vida...

Quem sou afinal eu?

Sou uma alma desassossegada a nadar à tona, em águas paradas...
E que desassossego é este que me impele a esgotar-me pelas palavras, a expelir-me como um vómito passado da validade de dentro do que outrora fora eu, quase de forma instantânea?
Pois bem, aqui estou para ir-me revigorando a cada post, ganhando em cada um de vós um leitor, que impeça afinal o meu tao esperado e fasado suicídio. Eu conto convosco!
Nado neste mar de águas paradas, às vezes braço nesta direcção e depois na outra e às vezes submerjo com a certeza de que nadando em qualquer que seja a direcção, e a que velocidade seja, jamais chegarei a lago algum.
E aqui estou a nadar: à tona, sempre à tona...
Espero que em cada post que faça, venham do vosso lado comentários rebuscados, desalmados e sempre num dequilíbrio soturno que me equilibre e me aproxime dos bordes do lago.
O objectivo é eu chegar ao borde do lago, ou seja, chegar ao vosso lado e deixar-vos entrar no meu lago.
De cada vez que um dos meus poemas ou posts fizerem eco nas vossas cabeças, então, terei trazido alguém a visitar o meu lago.
Até lá!